Biogeograficamente, Cabo Verde está situado na fronteira sul – ocidental da região Paleártica ocidental. A organização Birdlife International designou estas ilhas como “área endêmica para as aves”. Há 43 espécies reprodutivas, das quais 15 são consideradas endêmicas. As aves estão entre os recursos naturais de Cabo Verde que historicamente mais têm sido sujeitos a forte pressão antrópica. O consumo das aves está profundamente enraizado na cultura do povo cabo-verdiano e muitas colônias de aves marinhas do arquipélago têm sido dizimadas, de fato exterminadas, desde a colonização iniciada no século 15.
Boa Vista é uma das ilhas mais rica em diversidade ornitológica. Atualmente, mais de 20 espécies nidifica aqui. Uma grande diversidade de espécies migratórias pode ser encontrada nas zonas húmidas da ilha, principalmente entre finais de dezembro e início de maio. Seis das nove espécies de aves marinhas existentes em Cabo Verde nidificam na ilha da Boavista: Cagarra (Calonectris edwardsii), pedreiro-azul (Pelagodroma marina), jaba-jaba (Hydrobates jabejabe), rabo-de-junco (Phaethon aethereus), alcatraz (Sula leucogaster) e rabil (Fregata magnificens). A maioria destas espécies nidifica ao redor dos ilhéus de Curral Velho, Baluarte e Pássaros.
Entre as aves estepárias, a corredeira (Cursorius cursor), cotovia (Alaemon alaudipes), calhandra (Ammomanes cinctura) e pastor (Eremopterix nigriceps) são as espécies mais comuns. Os Galináceos ou “frangos” são representados pelas codornizes (Coturnix coturnix) e pela galinha-do-mato (Numida meleagris), sendo esta última uma espécie introduzida. Guincho (Pandion haliaetus), passarão (Neophron percnopterus), francelho (Falco alexandri) e coruja (Tyto detorta) são as espécies de aves de rapina que nidificam na ilha. Borrelho-de-colheira-interrompida (Charadius alexandrinus) e pernalonga (Himantopus himantopus) são as únicas espécies de aves limícolas que reproduzem na ilha. Finalmente, o endêmico pardal-de-terra (Passer iagoensis) bem como o pardal-do-algodoeiro (Sylvia conspicillata) são comuns em toda a ilha.
Durante a última década, o desenvolvimento turístico e o resultado do crescimento da população humana têm tido direta e indiretamente, efeitos prejudiciais graves sobre os habitats e as populações da maioria das espécies que compõem a avifauna da Boa Vista. Além disso, devido ao crescimento da população humana, os predadores de aves oportunistas, as indígenas (os corvos, Corvus ruficollis) e as exóticas (os gatos selvagens) têm encontrados condições para prosperar e aumentar seus números.
A maioria das zonas húmidas, habitats prioritários para a conservação das aves em Cabo Verde, estão sujeitos à degradação e destruição devido às atividades humanas. Dois sítios Ramsar existem em Boa Vista: Ribeira d’Água (ou Ribeira de Rabil) e Curral Velho. As principais ameaças nas zonas húmidas vêm de perturbação humana (ou seja, a circulação de pessoas e veículos motorizados e dos desportos aquáticos) e degradação (poluição da água por causa de derrames de combustível e óleos, extração de areia e extração de água para a agricultura e construção).