Cabo Verde tem o maior número de espécies e subespécies (taxa) de répteis e o maior número de répteis que são exclusivos de uma área (endémicos) dos cinco arquipélagos da região biogeográfica da Macaronésia. Na ilha da Boavista podem encontrar-se três taxa nativos, todos eles endémicos de Cabo Verde e exclusivos da ilha da Boavista e ilhéus adjacentes. Os répteis são muito importantes para o equilíbrio ecológico da ilha, pois movimentam o solo, dispersam sementes de plantas, regulam as populações de muitos invertebrados (por exemplo de mosquitos e pragas agrícolas como gafanhotos), são alimento de muitas aves e fazem parte do ciclo de reciclagem da matéria. Para além disso, são parte integrante da cultura de Cabo Verde, aparecendo nos mitos e medicina tradicional de todas as ilhas, Boavista inclusive. De seguida podemos conhecer cada um destes magníficos animais:
Osga exclusiva da ilha da Boavista e ilhéus Curral Velho e Sal Rei (espécie endémica). Tem coloração variável, podendo ser da cor da areia ou com riscas brancas transversais acompanhadas de manchas mais escuras ou com pares de manchas circulares escuras ao longo do dorso. Localmente abundante e fácil de observar mas com ecologia pouco ou nada conhecidas. É nocturna e durante o dia refugia-se debaixo de palmeiras, pedras e muros de pedra, em áreas arenosas ou planícies rochosas. Vive em grupos e põe ovos em abrigos comunais e pensa-se que tem uma alimentação maioritariamente à base de insectos (insectívora).
A espécie exótica, H. angulatus provavelmente já deslocou algumas populações da osga endémica H. boavistensis, assim é vital mais informação em relação à extensão de ocorrência desta espécie exótica e necessária a monitorização desta ameaça. Também a perda e alteração de habitat, principalmente na costa, causada pelo grande crescimento de infra-estruturas para o turismo é uma grande ameaça à conservação desta espécie.
Classificada como NT (Quase Ameaçada) de acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e como de Risco Baixo na Lista Vermelha Nacional (situação que deverá ser alterada).
Osga exclusiva da ilha da Boavista e ilhéu de Sal Rei (espécie endémica). Não muito abundante, mas fácil de observar. Com ecologia pouco conhecida. É nocturna e durante o dia refugia-se debaixo de pedras, em muros de pedra ou ruínas. Pensa-se que come principalmente insectos. Reproduz-se por ovos.
Ameaçada pelas secas e aumento da aridez. A percepção que a maioria dos locais tem acerca da osga também precisa de ser trabalhada, pois é temida sem fundamento. Classificada como VU (Vulnerável) de acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e como DD (com Dados insuficientes) na Lista Vermelha Nacional.
Escincídeo exclusivo da ilha da Boavista e ilhéus Curral Velho e Sal Rei (subespécie endémica). Bastante abundante e dispersa pela costa e zonas arenosas ao redor da ilha da Boavista, principalmente nas áreas de menor altitude. É diurna e durante a noite refugia-se debaixo de pedras, palmeiras, vegetação ou em buracos. Pensa-se que tem uma alimentação à base de invertebrados e que possa ser reproduzir-se por ovos (ovípara).
Classificada como LC (Pouco Preocupante) de acordo com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) e de Risco Baixo na Lista Vermelha Nacional.
Texto: Raquel Vasconcelos, investigadora de pós-doutoramento do CIBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, InBIO Laboratório Associado, Universidade do Porto e IBE, Institute of Evolutionary Biology (CSIC-Universitat Pompeu Fabra).
Fotografias: Vasco Flores Cruz e Raquel Vasconcelos